Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Rio-BH em 30 horas


Km 584, da BR-040, próximo ao trecho interditado em Itabirito



Próximo a Conselheiro Lafaiete


Foram 30 horas para vencer pouco mais de 600 quilômetros – de Paraty, no Rio de Janeiro, a Belo Horizonte, Minas Gerais. Com a notícia da interdição nos dois sentidos da BR-040, em Itabirito, pousada para madrugada de descanso em Juiz de Fora. Pela manhã, a notícia da liberação da rodovia. Pé na estrada. Falta pouco: 250 km. Em dia comum, sem pressa, coisa de 3 horas. Não era dia como outro qualquer. Nova queda de barreira voltou a interditar a BR e acrescentou mais 5 horas de suplício. O rádio anuncia 10 quilômetros de engarrafamento sentido BH e 5 quilômetros rumo ao Rio. Paciência. O importante era chegar bem.

A saga da volta para casa começou na segunda-feira, dia 2, às 10h, em estradas cariocas. Apesar da chuva sem trégua, de Paraty até Paraíba do Sul, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, o tráfego fluía. Até que uma carreta de São Bernardo do Campo, São Paulo, bateu de frente com carro popular no Km 181 da Rodovia Lúcio Meira, em Três Rios, matando Jonathan Soares Sabino, de 24 anos. Do carro de passeio, apenas restos espalhados pelo asfalto. Durante a tarde, depois de hora de interdição, a liberação da pista foi alternada nos dois sentidos, provocando congestionamento de quilômetros.

Em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, primeira manhã de sol de 2012. Até Conselheiro Lafaiete – cerca de 170 quilômetros –, duas horas de tranquilidade ao volante. Dali por diante, horas de lentidão e paradas nas duas mãos para operação de retirada da lama no Km 583, da BR-040, em Itabirito. Os vizinhos de asfalto também contam aventuras. Bruno Dias, de 21 anos, e Érica Borher, de 33, também estão há quase 30 horas na estrada, vindos de Arraial do Cabo (RJ). Isabelle de Araújo, Ana Tereza e Giordana Schettino, saíram cedo de Leopoldina. No entanto, não perdem o bom humor. Sob sombrinhas, chamam a atenção na beira da estrada porque são só sorrisos em meio a muita gente de cara amarrada e com fome.

Ronald Pereira Pena, de 26, taxista, deixou Entre Rios de Minas às 11h30. Já são mais de cinco horas de batente. Em corrida até Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte, leva para casa os garotos Alejandro Estevão Ferreira Costa e Wendel Iglander, ambos de 11, que voltam de passeio de fim de ano na Zona Rural. “Ainda bem que os meninos almoçaram. Eu seguro a onda. Tenho que segurar. Hoje, ainda vou fazer o caminho de volta”, afirma o motorista do táxi vermelho. Casal mais velho corta a estrada em busca de banheiro. O homem de barriga e cabeça branca abre o guarda-chuva para fazer “cabaninha” para a mulher fazer xixi. Do outro lado, o rapaz tatuado deixa o volante para fazer andar o skate “na falta do que fazer” no acostamento.

Depois de vencer o Km 583, parada no Mirante da Serra, na beira da estrada. A proprietária Zilda Santana, de 52, diz que, em 14 anos, nunca viu tanto movimento no estabelecimento. Conta que seu faturamento triplicou nas últimas 24 horas com a queda da barreira. Mas não faz cara de satisfação. Solidária ao drama dos mais velhos e das crianças – os mais prejudicados com o caos na rodovia –, reclama: “Esse trecho não tem jeito. A gente não pode ter nem telefone público”. Líder do negócio em família, diz que fez de tudo para oferecer o melhor atendimento possível, mas “com tamanho movimento, nem tem jeito”. Nos dois banheiros, marcas da multidão. Mais tarde, em casa, só as chinelas para dar jeito no cansaço pela saga ao volante.



Bruno Dias e Érica Borher levaram mais de 30 horas de Arraial do Cabo (RJ) a BH


Isabelle, Ana Tereza e Giordana Schettino



Alejandro Estevão (ao fundo) e Wendel Iglander penaram na volta para casa



Zilda mal deu conta do atendimento

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