
Ah, dona Maria, como a senhora faz falta. O que mais impressionava na mãe do Zé era a doçura e a educação. Não havia vizinho, amigo, parente ou conhecido que não admirava o jeito doce e particular dela de dar conselhos – e até puxões de orelhas. “Lembro-me de cada lição que aprendi com ela, especialmente no que diz respeito ao amor e respeito ao próximo”, comentou Beto. Maurício emendou: “Quando pensei em deixar a Marta, dona Maria conversou muito com a gente. Meu casamento já estava praticamente perdido. Ela ajudou tanto que acabou dando certo. Se, hoje, a gente tá junto, e bem, devemos isso a dona Maria”.
Todo mundo foi emendando uma boa recordação na outra, envolvendo os carinhos e cuidados da cabeleireira, protetora de todos nós. O Paulão, muito emocionado sempre com o 12 de outubro, não podia faltar: “Quando minha mãe morreu, dona Maria ficou do meu lado o tempo todo. Não fosse o amparo dela, não sei o que teria sido da minha vida, moleque, com 7 anos”. O Paulão cresceu na casa do Zé, vizinho de porta, em Santa Efigênia. Quase irmãos: assim crescemos todos no entorno da Avenida Mem de Sá.
Uma das passagens mais emocionantes da história do Zé e de dona Maria foi quando ele foi trabalhar no Iraque e por lá ficou quase três anos. Telefone na época era coisa de outro mundo. Ele vivia brigando com a mãe porque ela não escrevia. Ele não passava mês sem mandar duas, três páginas, pelos correios. E ela nada, nenhuma linha. Quando o Zé voltou para o Brasil, fomos buscá-lo no aeroporto. Lá, chorando, abraçado a dona Maria, o viajante ainda cobrou as cartas. Ela, sem graça, respondeu: “Meu amor, desculpa a mamãe. É que minha letra é feia demais”. Nunca esqueci a cena.
Mais de dez anos se foram e, em dezembro de 2000, quando o Zé, tristíssimo, reuniu forças para desfazer o quarto da dona Maria, morta há dois meses, ele encontrou duas caixas de sapatos cheias de cartinhas iniciadas. Todas para ele. Foi quando soube que a mãe era analfabeta. Ainda assim, sozinha, deu conta de rabiscar em dezenas de folhas pautadas: “Querido e amado filho José…”. Até ano passado, as caixinhas eram guardadas como verdadeiros tesouros. Em outubro, foram incineradas. As cinzas, no Natal, levamos e jogamos no mar do Espírito Santo. Hoje, dia de Nossa Senhora Aparecida, saudamos também nossa amada mãe Maria.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 12/10/11
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