Na sala do apartamento herdado no Bairro Aparecida, Larissa pausou a viagem no tempo para atender Carolina, ao interfone:
– Carolina.
– Sobe.
Carolina, 39 anos, havia sido professora de Larissa. Mulher bonita e inteligente. A idade – 14 anos de diferença – jamais foi problema entre as duas. Pelo contrário. Era justamente o que dava solidez ao namoro, que já durava sete anos. Conheceram-se na faculdade de publicidade, logo que Larissa deixou Divinópolis para morar com Beatriz, a mãe biológica, em Belo Horizonte.
No início das aulas, a moça de olhar tímido até passou despercebida pela professora de filosofia. Mas logo nas primeiras conversas em roda sobre “o mito da caverna”, de A república, de Platão, Carolina enxergou fundo o que havia em segredo no peito de Larissa. A menina criada até os 18 anos pela avó, sem pai, deixada ainda de colo pela mãe, Beatriz, guardava desejos na escuridão. Foi com Carolina, durante feriado prolongado, que Larissa teve sua primeira noite de amor. O que pareceu estranho e inexplicável, logo se fez libertador.
Foi também quando Larissa conheceu o mar. Na manhã, depois da madrugada de sexo, a estudante despertou com o sol a entrar pela janela e café da manhã na cama. Carolina sabia bem do que gostava uma mulher. Foi ela quem quebrou o silêncio:
– Você dorme bonito.
– Obrigada.
– O dia tá lindo. O mar tá azul como nunca vi.
– É tarde?
– Cedo. A praia ainda tá deserta.
– Você já foi à praia?
– Não. Vi da varandinha.
– Quero ver.
– Claro.
Larissa saltou da cama vestida apenas de camisa e calcinha. No parapeito da sacada, respirou o infinito do mar na linha do horizonte. Carolina, feliz, assistiu a Larissa como quem ama simplesmente.
Agora, no apartamento deixado pela mãe morta, Carolina veio saber de Larissa. Porta aberta, a professora volta à sala do Aparecida, palco de conversa muita séria no dia em que conheceu Beatriz.
(Continua no próximo sábado)
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 12/6/10
– Carolina.
– Sobe.
Carolina, 39 anos, havia sido professora de Larissa. Mulher bonita e inteligente. A idade – 14 anos de diferença – jamais foi problema entre as duas. Pelo contrário. Era justamente o que dava solidez ao namoro, que já durava sete anos. Conheceram-se na faculdade de publicidade, logo que Larissa deixou Divinópolis para morar com Beatriz, a mãe biológica, em Belo Horizonte.
No início das aulas, a moça de olhar tímido até passou despercebida pela professora de filosofia. Mas logo nas primeiras conversas em roda sobre “o mito da caverna”, de A república, de Platão, Carolina enxergou fundo o que havia em segredo no peito de Larissa. A menina criada até os 18 anos pela avó, sem pai, deixada ainda de colo pela mãe, Beatriz, guardava desejos na escuridão. Foi com Carolina, durante feriado prolongado, que Larissa teve sua primeira noite de amor. O que pareceu estranho e inexplicável, logo se fez libertador.
Foi também quando Larissa conheceu o mar. Na manhã, depois da madrugada de sexo, a estudante despertou com o sol a entrar pela janela e café da manhã na cama. Carolina sabia bem do que gostava uma mulher. Foi ela quem quebrou o silêncio:
– Você dorme bonito.
– Obrigada.
– O dia tá lindo. O mar tá azul como nunca vi.
– É tarde?
– Cedo. A praia ainda tá deserta.
– Você já foi à praia?
– Não. Vi da varandinha.
– Quero ver.
– Claro.
Larissa saltou da cama vestida apenas de camisa e calcinha. No parapeito da sacada, respirou o infinito do mar na linha do horizonte. Carolina, feliz, assistiu a Larissa como quem ama simplesmente.
Agora, no apartamento deixado pela mãe morta, Carolina veio saber de Larissa. Porta aberta, a professora volta à sala do Aparecida, palco de conversa muita séria no dia em que conheceu Beatriz.
(Continua no próximo sábado)
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 12/6/10
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