Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ainda sobre os filhos dos descasados

“Sobre os filhos dos descasados” – Bandeira dois publicada na semana passada – daria uma série. Impressionante como o tema provoca quem conhece bem o assunto. E, infelizmente, ser pai ou mãe na condição de descasado tem se tornado cada vez mais comum. Foi o que lembrou bem o leitor Luciano, morador do Bairro Glória. Escreveu: “Gostei muito da coluna porque já passei por isso e foi o fim. Voltei das férias uma vez, depois de viajar três semanas com a mulher, e quis ficar uma semana com meu filho do primeiro casamento. A danada implicou e foi um inferno. Eu tava morrendo de saudades do meu filho. Ainda não tinha um ano que a gente tava casado. Tudo que eu mais queria era que os dois se dessem bem, mas não foi o que aconteceu. Ela começou a querer ficar na casa da mãe e fez muita cara feia pro meu filho. Aí, queimei no golpe e mandei ela catar coquinho. Não me arrependo de jeito nenhum. Antes só do que mal acompanhado. Se quiser, pode publicar isso aí, Josiel”. Está publicado, Luciano.

É. Não pode mesmo haver disputa nem ciúmes em relação a isso. Só amor de verdade é capaz de fazer brotar o discernimento que a questão exige. É verdade que às vezes a paixão se sobrepõe à razão e tem gente que acaba fazendo besteira. Conheço um cidadão que perdeu completamente o rumo ao se envolver com uma mulher fora do casamento. Deixou a família – mulher e cinco filhos – por causa de um rabo de saia que encontrou numa viagem de negócios. Manteve o caso por uns seis meses e resolveu chutar o pau da barraca para viver o novo amor. Mas o pior estava por vir. A nova mulher, por ciúmes doentio, fez de tudo para afastá-lo dos filhos. Tanto fez que o convenceu a se mudar para outra cidade. Para encurtar a história, que é bem longa, por fim, quase duas décadas passadas, dos cinco filhos apenas a caçula tem algum carinho pelo meu conhecido. Os outros não demonstram o menor afeto. Deram o maior gelo nele, que está descasado há mais de cinco anos.

Ultimamente – soube pelo Adelson, que é muito amigo dele –, tem feito de tudo para se reaproximar da família. Nada. Da última vez que nos encontramos, lá em Santa Mônica, no Espírito Santo, ele estava chateadíssimo com uma conversa que teve por telefone com o filho mais velho. Contou-me que o moço foi muito duro, dizendo que a escolha havia sido dele e que, agora, era tarde demais. O Adelson e eu, outro dia, conversamos sobre a situação dele. O Adelson, de tão amigo, certa vez, há muitos anos, até foi com ele na casa da ex-mulher e dos filhos. Ele veio escondido da nova mulher, porque tinha medo de que ela soubesse. Segundo o Adelson, queria se desculpar e ver como estavam. Foi recebido com a maior frieza e saiu de lá expulso por dois ex-cunhados que estavam na casa. “Um fiasco”, foi o que o Adelson contou, dizendo ainda que, no táxi, depois que eles saíram de lá, o homem, rumo à rodoviária, chorou de soluçar.

Não é fácil lidar ou tentar entender situações assim. Fato é que o tempo é inexorável e que não há ação sem reação. Penso nisso o tempo todo. Por mais difícil que seja agir com coerência e em paz com o coração.


Bandeira Dois - Josiel Botelho - 5/5/10

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