O Mourão está indignado e com razão. Levou o pai, "seu" Zezito, às pressas em hospital bacana, particular. Fala-se muito em mãe, mas pai como o do Mourão não se vê por aí, aos montes. O "seu" Zezito, conheço bem, é homem da maior estatura. O fato é que o pai do Mourão, abatido por forte dor na coluna, aos 72 anos, mal tinha condições de caminhar. Tanto é que chegou ao consultório em cadeira de rodas. Lá, o doutor, jovem pelo que parece, receitou anti-inflamatório e passou remédio injetável para aliviar a situação: "Tem uma farmácia aqui perto", disse o especialista. Mourão, surpreso com a fala do doutor, perguntou – já que o paciente estava tomado por fortes dores – se a medicação não poderia ser aplicada ali, no hospital. "Não, a farmácia é aqui perto", repetiu o cidadão de jaleco.
Não dá para não tomar as dores do Mourão. Também tenho pai. Imagine, amigo leitor, um senhor adoentado, portador de Mal de Parkinson (um agravante) encaminhado para tomar remédio numa farmácia qualquer, quarteirão dali, na rua? A questão é: num atendimento de emergência, de pronto-socorro, o médico de plantão encaminha um paciente à drogaria da rua? Parece brincadeira! Não pode ser sério um atendimento desse. O nome do doutor e do hospital, por hora, estão sendo preservados porque as medidas cabíveis ao caso estão em curso. Isso é assunto de muita gravidade e não pode se repetir. Casos como o do "seu" Zezito, quando não são denunciados, ajudam a manter gente despreparada a lidar com nosso bem maior: a vida.
Quando soube da situação fiquei bastante chateado. Tenho muitos amigos médicos e estudantes de medicina. É muito pouco provável que qualquer um dos meus amigos doutores, sérios e respeitados como são, agissem dessa maneira. Posso afirmar que são bem mais profissionais do que esse plantonista.
Lembro-me bem de conversas longas com vários deles, sempre muito atentos às necessidades de seus pacientes. Desde que soube do ocorrido, conversei com muita gente de bem sobre o assunto. O velho Botelho, por telefone, pediu que eu tomasse nota: o delicado. Já perdi a conta de quantas vezes fui muito mais bem atendido pelo SUS. Tem muito médico em hospital particular que atende convênio com a maior má vontade. Quando se trata de quem tem mais de 60, então, a coisa costuma ser pior. O negócio agora é andar com o Estatuto do Idoso debaixo do braço. O Mourão tá certo. Tem que deixar registrado para que esse médico aprenda a cuidar melhor de seus pacientes. Acredito que isso seja muito bom até para o hospital, porque, se eu tenho um hospital, eu ia querer ficar sabendo qual é o tratamento que os meus pacientes recebem. Às vezes, quem sabe, o dono nem sabe que tem no seu quadro de pessoal gente que não sabe tratar de gente".
Falou tudo o velho Botelho. Qualquer desdobramento do rumo oficial do caso do "seu" Zezito, conto aqui em nossa Bandeira Dois.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 2/3/11
Um comentário:
Olá, Josiel. Isso está mesmo se tornando corriqueiro, infelizmente. Eu sou de uma família grande, de 9 irmãos e, como estamos envelhecendo, é comum muitas idas e vindas a médicos. O que tenho visto às vezes chega a estarrecer (irar costuma também). O que tenho concluído é que a medicina tem evoluido demais em tecnicas e recursos novos, mas os médicos estão "desumanizando-se" cada vez mais. Eu, por exemplo, se não for emergência, só vou a um médico por indicação de alguém. Abraços. Paz e bem.
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