Bullying. É essa a palavrinha monstra muito usada nos debates com os amigos da praça na última semana. Desde que o companheiro Oscar mostrou no celular um vídeo envolvendo dois garotos australianos, não se fala em outra coisa em nossos encontros. É mesmo de impressionar. Parece que a história do menino grande, muito simpático, que, para se defender, quase quebrou um moleque muito atrevido no pátio da escola rodou meio mundo. Daí, desde então, “bullying” me ocupa as ideias. Procurei ajuda de gente graúda, doutora, na universidade, para saber o que significa exatamente esse nome feio. Apurado, é ainda mais feio do que imaginei.
Na verdade, é uma crueldade antiga, que muitos de nós, adultos, sabemos o que significa. Só que agora, na onda midiática, vem ganhando projeção internacional como “bullying”. Em português popular, de praça, trata-se de uma espécie de intimidação, de um abuso, praticado por alguém (ou grupo) que, de alguma maneira, detém mais força ou poder. O alvo, vítima desse acossamento, dessa intimidação, quase sempre passa por essa espécie de tortura em silêncio. No caso do garoto australiano, ele resolveu dar um basta às agressões físicas que andava sofrendo. Defendeu-se com um golpe daqueles de luta livre e acabou se tornando herói para muita gente. Certou ou errado? Violência gera violência. Não vamos entrar fundo no assunto porque isso é para mais de metro e nosso quintal é estreito. Mas não dá para deixar de comentar que esse tal “bullying” é um grande mal contra o qual devemos lutar.
Entre os que me são caros, o respeito às diferenças é princípio fundamental. Não está certo desrespeitar ninguém. Espantam-me as atitudes maldosas por parte de algumas crianças. Fui criança, sou pai de dois adolescentes e tenho muitos afilhados. Faço o que posso para esquadrinhar esse universo das relações entre os pequenos. Pai separado, não abro mão de acompanhar passo a passo a vida dos meus garotos. Lembro-me bem de quando o Gabriel brigou na porta da escola, lá no Espírito Santo. Foi numa segunda-feira. Ligou-me chorando, com o olho roxo, dizendo que não iria voltar mais ao colégio. No dia seguinte, lá estava eu em Vila Velha, para tentar entender o que estava acontecendo. Norma, minha ex-mulher, e eu conversamos com a família do outro garoto, vizinho. Foi briga besta – quase sempre é – coisa de garoto. Tanto foi que, na semana seguinte, os dois já haviam se acertado e são amigos até hoje.
O Gabriel sempre foi muito calado, reservado mesmo. Na época, não sabia desse nome “bullying”, mas fiquei muito preocupado exatamente com o que essa palavra representa. Hoje, revirando o passado, lembrei-me da Rosa, amiga dos meus tempos de menino. Ela vivia sozinha pelos cantos da escola. Não conversava com ninguém e estava sempre chateada com os colegas, que riam dela porque era ruiva e tinha sardas – o que, para mim, era um charme inesquecível. Um dia, ela simplesmente não voltou mais ao grupo. Nunca mais tive notícias dela. Rosa, minha lembrança, meu carinho. Aqui, assim como meus bons amigos, estou em campanha contra o “bullying”!
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 30/3/11
Um comentário:
Josiel, a esta altura da minha vida eu tenho certeza de que o sentimento de rejeição (especialmente na infância) é o maior dos causadores de todos os males psiquicos que vão se manifestar em algum momento da vida. Quase sempre de forma traumática ou trágica. Isso tem mesmo que ser combatido e a família para mim é o elemento mais importante nessa prevenção. Meu abraço. paz e bem.
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