Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

segunda-feira, 1 de julho de 2013

“Layla, 22: o anjo espanhol”

– Layla.
– Sobe.

Segunda-feira. Dia de Cantareira ter companhia por hora de aluguel. Layla, a espanhola dos classificados relax, mais parecia capa de revista: a garota de programa mais bonita de que o velho teve notícia. Ao abrir a porta, o viúvo não conseguiu disfarçar o encantamento pela figura alta, sexy e perfumada.

 

Demorou para que os dois  trocassem palavra. Ela entrou, retirou o casaco e o entregou ao coronel. Ele colocou música antiga e foi até a cozinha buscar o vinho na temperatura para a ocasião. Cantareira caprichou nas taças e no prato fino: Pappardelle com compota de tomate confitado ao forno e manteiga de trufas.

 

Antes, ela quis fumar.

 

– Posso?
– Como quiser.

A mulher acendeu o cigarro e, entre as baforadas, catou com profundidade os olhos do velho. Ele não se intimidou e entrou no assunto.

– Você me parece ser do tipo calado, mais reservado. Um jeito bem bom de ser. “Águas paradas são profundas”, escreveu Lorca, o poeta.

Ela sorriu, apenas. Ele manteve o dramaturgo espanhol na conversa.


– “Nunca saberás, esfinge de neve, o muito que eu haveria de te querer essas madrugadas quando chove e no ramo seco se desfaz o ninho”.

Ela emendou:

– “O que é isso que soa bem longe? Amor. O vento nas vidraças, amor meu!”. “Ar de noturno”. É o meu poema preferido.

Cantareira sorriu como há muito não fazia. Com a velha câmera polaroide nas mãos, pediu para fotografar Layla. “Uma lembrança”, justificou. Ela, delicada, fez pose. Juntos, jantaram o pappardelle com gosto e amizade. O velho pagou R$ 300 pela presença e por mais um retrato na parede de memórias. E foi só.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho

Nenhum comentário: