Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A vida de busão


Em quatro anos valeria uma graduação em qualquer universidade. São quase cinco horas por dia, de segunda a sexta-feira, à espera ou dentro de transporte público precário. É a vida de busão de Izabelle Karine Martins Moreira, de 19, moradora do Bairro Santa Cruz, em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. De casa até o trabalho, no Bairro Lourdes, na Região Centro-Sul, é longo o caminho até mesmo para quatro lotações. E caro: são R$ 3,45 + R$ 2,80 por trajeto. Ida e volta somam R$ 12,50 por dia. Com 1,77m, Izabelle reclama o espaço entre as cadeiras. Quando consegue assento, enfrenta dificuldade para se ajeitar. “As pernas precisam ficar apertadas, de lado”, diz.

Para a assistente de relacionamento, é preciso de mais ônibus para diminuir o intervalo. “No horário de pico, é de 30 em 30 minutos”, conta. Izabelle, nos fins de semana, evita o transporte público porque “ele quase não existe”, avalia. Lidia Mara, de 25, de Santa Luzia, outro município da Região Metropolitana da capital, diariamente passa o mesmo aperto de Izabelle. “Depender de ônibus é horrível. Chego a ficar esperando mais de uma hora no ponto”, ressalta. A cobradora precisa acordar às 5h para chegar às 8h no trabalho. “É um serviço caro e sem qualidade”, desabafa.

Miguel Luiz de Deus, de 78, tem passe livre. Nem por isso deixou de sentir no bolso o peso das despesas com o transporte público já que é quem paga pelas passagens da filha Sirlene, de 22. “São quase R$ 400 por mês. Faz as contas… é caro demais. Como é que a gente dá conta?” O aposentado, insatisfeito com as péssimas condições das linhas de ônibus, vê com entusiasmo as manifestações das últimas semanas. Eu tô achando é muito bom esse movimento todo. Tem que baixar o preço mesmo”, considera.

É dia de Miguel visitar parte da família em Santa Luiza. Ao menos uma vez por semana, faz uso da linha 4155. Diz que chega a ficar mais de 40 minutos na Praça da Estação, esperando. Morador do Bairro São Pedro, na Região Centro-Sul, Miguel, elegante, de roupa social colorida, aguarda com paciência o “vermelhão”. Ele comenta a tabela de horários afixada em casa. “Mas ninguém cumpre o que está lá. Acompanho direitinho e nada. Eles só cumprem nos domingos e feriados porque os intervalos são de mais de hora”, pontua.

No quarteirão da Estação Ferroviária, quadrante sujo de mau cheiro, de calçada tomada por moradores de rua, muitas linhas se convergem. Ali, arena de espera para pequena multidão de grande parte dos 34 municípios da Região Metropolitana, entre 17h e 20h, é “pedaço do inferno” para a balconista Elisângela Nunes, de 26. A estudante de pedagogia reclama especialmente da falta de estrutura para as crianças e para os mais velhos naqueles pontos. No santuário evangélico de portas abertas, em frente a um dos pontos mais cheios, o pastor berra ao microfone: “Quem tá feliz bate palma!”.

Bandeira Dois - Josiel Botelho

Foto: Alexandre Guzanshe


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