“Alegria é a melhor coisa que existe. É assim como a luz no
coração”, escreveu o poeta Vinicius de Moraes a quatro mãos com Baden
Powell em Samba da bênção. Encanto antigo, trata-se de uma ode à
felicidade: “É melhor ser alegre que ser triste”. Um hino ao amor
próprio e às boas energias que devemos tratar por dentro. Alguns amigos
me criticam, dizendo que estou me saindo “um bom escritor de autoajuda”.
Não tenho nada contra essa história de autoajuda. Se ajuda, se pode
fazer bem à alguém, que mal pode ter?
Neste quintal, não dá para ficar preocupado em agradar a meia dúzia de
amigos intelectuais que odeiam Paulo Coelho e que não tiram os olhos das
páginas de nosso Aqui – brincadeira, Lúcio, Henrique, Juarez, Helena,
Marília e Hugo. Este espaço é para todos os sujeitos de bem. E do mal
também, desde que queiram dar novo rumo à vida. Para isso, autoajuda é
uma beleza.
Voltando ao poeta – é o que interessa –, ano passado, ganhei um CD com
Samba da bênção gravada 23 vezes. A leitora Ana Cristina, vizinha do
Osmar, mandou pelo amigo taxista. Presente que não sai do aparelho do
carro e que não me canso de agradecer. Não passo dia sem ouvir a música e
os versos falados que tanto me inspiram. Há um trecho que já sei até de
cor:
“Cuidado, companheiro! / A vida é pra valer / E não se engane não, tem
uma só / Duas mesmo que é bom / Ninguém vai me dizer que tem / Sem
provar muito bem provado / Com certidão passada em cartório do céu / E
assinado embaixo: Deus / E com firma reconhecida! / A vida não é
brincadeira, amigo / A vida é arte do encontro / Embora haja tanto
desencontro pela vida”.
É bonito demais. Digo o texto acima para mim mesmo, sempre, como uma
oração. “A vida é pra valer e é uma só. E a vida gosta é de quem gosta
da vida”, acredito. Lição decorada na alma. Os desencontros existem aos
montes –sabemos todos. A doença talvez seja o maior deles. Derramei
lágrimas à beça com os males que sucumbiram gente próxima, muito amada.
Não é fácil. De resto, desagrados como a falta de dinheiro não me
abalam. Nunca perdi uma noite de sono com aborrecimentos menores. Menos
ainda: jamais desperdicei um bom-dia nas manhãs de qualquer cor e
natureza.
Tenho lá as minhas fraquezas. E são muitas. Mas o que não tenho é a
doença do pessimismo ou mal algum das feridas imaginárias que vergam o
corpo e mandam ao ralo simpatias. Há quem destrata os mais próximos, de
graça, por uma noite mal dormida.
Pior ainda: são muitos os que desarmonizam os lares e os escritórios por
uma conversa atravessada ou por qualquer contrariedade besta. Desses,
tenho pena. Porque a alegria é felicidade demais para ser perdida.
Bandeira Dois - Josiel Botelho
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