O duo de meninas tristes estava atento à notícia da TV. Na
tela, a imagem congelada da loura derrotada. A mulher picotou o marido
milionário e espalhou os pedaços pela Região Metropolitana de São Paulo. A
dupla de prostitutas de luxo lamentou o trágico fim da bela enjaulada, quase
princesa. Sabendo das expectativas da amiga, companheira de apartamento, Natasha
provocou Michele:
– Putz, colega… cortasse só o pingolim dele.
– Agora, vão falar que ela só fez isso porque já foi puta.
– Não existe conto de fada, Mi.
– Cada um tem o príncipe que merece.
Enrolada na toalha, Michele desconversou: “Gata, tô em cima
da hora”. Dia de sair com o “namorado”, executivo graúdo de Belo Horizonte.
Romance de ano e meio, iniciado por R$ 400 a hora. O moço ligou cedo, nervoso.
Casado, posto contra a parede pela mãe de seus filhos, o traíra estava disposto
a terminar tudo com a amante. Enganada, Michele se vestiu com requinte, como
borralheira à espera de carruagem. “Tchau, gata!”, despediu-se. No noticiário,
a matéria longa ainda dava detalhes sobre o Matsunaga morto, esquartejado.
O celular toca. End no cliente endinheirado. Natasha não
estava para indecências. Pausa para paz de espírito. Naquela noite, a menina
tímida do interior de Goiás somava sete anos de programas. Sem pai nem mãe,
mantinha algum contato apenas com a avó materna, com alzheimer. Desligou a TV para viver saudade
dos tempos de criança. “Chega de desgraça!”, disse para si mesma. Vestiu pijama
cor-de-rosa, com desenho da Minnie, e tentou dormir.
Não havia passado hora, quando Michele, de maquiagem
borrada, vestido rasgado e sapato de salto nas mãos, entrou no quarto de
Natasha.
– Você faria um troço daquele?
– O que?
– Matar o cara… se ele enganasse você?
– Não sei… acho que não, Mi.
– Boa noite, gata.
Depois de banhar-se em água fria, Michele afastou da cabeça
as ideias de morte. E, de vez, largada, pôs fim aos sonhos de princesa.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 11/6/12
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