Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

sábado, 10 de julho de 2010

A dama e o vagabundo

Não importa o passado da menina morta. A morte é a maior das redenções. Maria-chuteira ou atriz pornô, convenhamos, não interessa. Melhor seria viva, na Rússia, por vontade própria, fazendo a alegria dos rapagões solitários. Ou ainda, contratada por produtorazinha qualquer, ganhando o pão com a própria carne. Desossada e devorada por cães famintos, sinceramente, não dá para crer. Nem o cineasta inglês Guy Ritchie, roteirista e diretor de Snatch – Porcos e diamantes, foi capaz de ir tão longe com suas ideias de sangue. Quem disse que a vida não supera a ficção?

Por hora, até o fechamento desta edição, falta comprovar. O tudo – que não é pouco – são apenas provas objetivas e subjetivas. Depoimentos truncados, testemunhas aterrorizadas, lugares e mais lugares esquadrinhados, anunciados em matérias de rádios, tevês, jornais e revistas do Brasil e também no exterior. Prato cheio para os urubus o assunto bárbaro interessantíssimo: jogador de grande clube de futebol suspeito de dar cabo de ex-amante. De um lado, atleta expoente, ex-miserável, endinheirado. Do outro, mariazinha de história infeliz querendo aprumar. Poderia ser somente mais uma pauta para revistas, sites e programas de fofoca, desses aos montes, que ajudam a emburrecer a massa. No entanto, pela relevância do que pode ser fato, é manchete de polícia.

Sou um otimista. José Saramago escreveu que o otimista só pode ser milionário ou estúpido. Então, estúpido, espero que a menina morta esteja viva. Que apareça dizendo que bebeu além da conta e acordou num navio rumo ao bem longe, sem rádio, internet ou celular. Gostou do lugar e quis tirar férias do filho de 4 meses, que, havia muito, não a deixava dormir. Também estava cansada do pai pecador, acusado de estupro, e da mãe ausente, lá no Mato Grosso do Sul. Um desejo estúpido: que a menina morta volte a sorrir. Que esclareça e desarme o circo bizarro armado pelos mais competentes policiais e jornalistas de dois grandes estados brasileiros. E por fim, que o goleiro enjaulado – depois, é claro, de responder pelo que já é crime – possa voltar a fazer suas defesas espetaculares e, até, se divertir com seus quadris de aluguel nos bacanais de outrora. Que o pesadelo chegue ao fim para os bons cidadãos envolvidos, enrolados no caso à toa, por apreço e amizade.

Espero, mais estúpido ainda, que esse pobre adolescente, responsável pela reviravolta da semana, seja um novelista em potencial. Um garoto de mente extraordinariamente fértil, leitor de Stephen King. Por que não? Quem sabe, por alguma razão, o garoto não estava aborrecido com o ídolo rubro-negro e decidiu aprontar das suas? Bobagem. Coisa de gente pequena, sem juízo, simplesmente. Reconheço, amigo leitor: há em mim uma estupidez que se recusa a acreditar que todo o mal, dor, tristeza e burrice que há por trás dessa história assombrosa seja verdade. Sou menos Guy Ritchie e mais Walt Disney, memorável criador de A dama e o vagabundo.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 10/7/10

5 comentários:

Caca disse...

É, Jefferson, o mesmo Saramago disse também: "vamos viver fazendo o menos mal possível. Essa talvez seja a única sabedoria ao nosso alcance." Estúpida é o que está virando essa banalidade chamada vida humana.Muito bom o artigo. Abraços. Paz e bem.

JFC disse...

Caro Cacá,

Sua presença aumenta o alcance deste quintal. Obrigado, amigo! Sigamos pelo bem! Sempre! Meu abraço.

Jeferson Cardoso disse...

É duro de acreditar.
Jefhcardoso do
http://jefhcardoso.blogspot.com

Ludymilla disse...

É, Jeff. Sou como você. Bem mais Walt Disney...

Ludymilla disse...

É, Jeff querido. Sou como você. Bem mais Walt Disney. Mas bem mais mesmo.