Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Puta por um dia


Queriam requentar o casamento. Novas experiências, talvez. Reencontrar o prazer entre quatro paredes – quem sabe? O que já foi uma loucura, agora, era raro: uma vez por mês, com esforço e olhe lá. Mesmo assim, burocrático, sofrido, sem a menor qualidade. Um desastre em meio ato e sem suspiros. Para eles, o movimento dos quadris dava muito trabalho. Preguiça a dois: ela fingia dormir e ele dava graças a Deus.

Apesar da geleira, cama de casal, os dois não pensavam em viver separados. Gostavam-se muito. Acontece. Não queriam pular a cerca. Um tinha medo de magoar o outro. Essas coisas. Assim, a vida seguia. Num almoço, um amigo chamou a atenção do marido desanimado: “Zé, aquilo que você me disse do seu casamento… sei não… se você gosta mesmo da sua mulher, é melhor você fazer alguma coisa, se não quiser que ela arrume outro…” E aquilo ficou como zumbido na cabeça.

Os conselhos das amigas da esposa não eram diferentes: “Marido que não janta em casa, come na rua…” “Não lembra da Dorinha? Não dava pro marido, aí ele acabou se arranjando com aquela piriguete da academia…” A mulher entrou em pânico. Até que, no salão, ouviu a manicure: “Comigo, o Aníbal andava meio frouxo… Aí, encapetei, entrei numa dessas lojas de sex shop, comprei uma roupinha dessas de puta; dissolvi um viagra num copo de leite e foi uma festa… menina, nem te conto!”.

E aquela história provocou fantasias na mulher. Criativa, inspirada na manicure, combinou teatrinho erótico de dois personagens com o marido: ele e ela. A mulher ia vestir uma roupinha muito da provocante, usar peruca loura, batom rosa choque, salto de 15cm e meia arrastão. O marido, óculos fundo-de-garrafa, camisa abotoada até o pescoço e gravatinha: figuraça. E, fingindo estranhos, caíram na noite, na Avenida Afonso Pena.

Tudo muito bem ensaiado. Ele a deixaria em frente ao prédio da Telemar, na Serra, daria uma volta no quarteirão, e pronto… era só chegar e dizer: “Moça, quanto é o programa?” Ela diria: “Por mil reais te levo a loucura”. Até o texto foi dela. Ele sugeriu que ela falasse uns cem reais, mas ela queimou no golpe: “Por cem eu não topo. Já que vou ser puta por um dia, quero ser puta chique”. E ele achou aquilo muito engraçado e topou a parada.

Deixou a mulher, deu a volta no quarteirão e quando voltou o circo tava armado: um advogado taradão chegou antes e cismou com a ‘puta de luxo’. O marido desceu do carro e não teve conversa: meteu a mão no sujeito e também levou boas bordoadas. Resultado: foram parar na delegacia. Uma tragicomédia que só teve fim no raiar do dia. 

Em casa, acabados pela longa noite de aventura, dormiram sono pesado, de conchinha e profundamente apaixonados. O sexo… bem... o sexo ficou para depois.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho

Um comentário:

Anônimo disse...

Hello. And Bye.