Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A última janta do Cabeleira


Por Josiel Botelho*

Semana intensa de muito trabalho. Pausa para um cineminha porque ninguém é de ferro. Afinal, ou é assim ou acabo perdendo a namorada – moça pra lá de especial, com uma paciência incrível para aguentar o meu batidão no volante. Fazer o quê: “O trabalho edifica o homem”. É o que cresci ouvindo o velho Botelho dizer. No cinema, fui ver um filme de um tal Woody Allen, chamado Meia-noite em Paris. Caramba! Escolha da Violeta, chegada num filme diferente. Achei um barato. A gente que é muito acostumado com o cinemão americano assusta um pouco, é verdade. Porque, cá entre nós, esse Woody Allen pode até ter nascido nos EUA, mas nem parece americano. Os diálogos são muito bons e ele é muito crítico. Critica tudo e a si mesmo o tempo todo. É muito legal. Então, fica aqui a dica cultural: uma viagem no tempo e no espaço. Ah, Paris! Falei do filme e da vontade que fiquei de conhecer Paris para alguns amigos e eles caíram na minha pele: “Que isso, Josiel? Tá sonhando alto, hein, parceiro!?” Porque não, Adelson? Pobre também sonha, meu filho. Não é não, amigo leitor!?

Para não render, vamos mudar de assunto. Depois a gente conversa, Adelson. Olhem só, tenho uma passageira com uma história incrível que preciso dividir. Não vou citar o nome dela aqui para que ninguém a identifique. Isso não seria bom. Mas foi ela mesma, nossa leitora há mais de cinco anos, quem autorizou. “Pode anotar aí no seu caderno, Josiel. Quem sabe isso não vai abrir os olhos de alguém que vive uma situação parecida com a minha”, disse, com os olhos avermelhados, domingo, a caminho de Confins. Vamos chamá-la de Magnólia. Magnólia passou mais de dois anos namorando o Cabeleira, um comerciante de Contagem. Pensava que era amor para toda a vida. O camarada, casado, enrolou a Magnólia cheio de manha e malandragem. Disse até que a esposa estava entrevada, vítima de doença rara e coisa e tal. Segundo ele, a condição da mulher era um grave impedimento para que ele se separasse.

E, assim, o tempo passou. Até que a Magnólia descobriu que a mulher do Cabeleira tinha uma saúde de ferro e que era professora. Até o endereço da escola ela descobriu com uma conhecida em comum – Belo Horizonte é cidade pequena demais, vivo dizendo. Magnólia foi até o colégio e teve uma conversa muito séria com a dona, que para o espanto da Magnólia, sabia de tudo. Contou que o marido não era fácil mesmo e que tinha um monte de caso. Que ela – a minha amiga – “não era a primeira e nem seria a última”. E que eles, de fato, já não dormiam juntos havia tempo. Mas não por causa da Magnólia, e, sim, por causa de uma tal de Ivete, lá do Vale do Jatobá. Por fim, disse que não se separava do marido porque ele é que tinha que sair de casa. E até disse que já estava bem feliz, com novo amor e tudo. Fiquei boquiaberto. E olha que conheço muitas histórias cabeludas.

O desfecho foi que a Magnólia, com muito sangue frio, preparou um jantar bem caprichado para o sujeito, na sexta-feira – dia em que ele sempre dormia na casa dela. Depois que ele mandou ver a beringela recheada, ela decidiu colocar tudo em pratos limpos. Cabeleira não negou a Ivete. Disse que amava as duas. Magnólia ficou arrasada. Mandou ele embora e disse que lá, ele não come nunca mais. De Confins, muito triste, seguiu para Brasília. Vai passar uns tempos na casa de uma irmã para ver se esquece o pilantra.

*Josiel Botelho é colunista do jornal Aqui e taxista em Belo Horizonte

Um comentário:

Caca disse...

Incrível essa, hein, Josiel! Eu tenho um amigo taxista, o Agostinnho, tem dias que ele me conta cada história de virar filme! rsrs. Gostei, apesar do triste fim do Cabeleira. Mas o lamento mesmo vai para a Magnólia, enrolada até onde pode. Abração. paz e bem.