Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara
quarta-feira, 27 de julho de 2011
Cadê a graça, senhor impostor?
Espanta-me a falta de criatividade do humor brasileiro neste século 21. Venho de uma família que aprendeu a gargalhar com Chaplin, Tati, O gordo e o magro, Os três patetas, Oscarito, Mazaropi, Grande Otelo e Chico Anysio. Também curti à beça a graça quase inocente de Os trapalhões e de Chaves. Já este humor barato desses pseudo-humoristas, que ganham projeção fazendo hora com a cara dos outros ou com piadinhas de mau gosto, envolvendo diferenças de cor, sexo, biotipos e religião, que perseguem celebridades, francamente, isso, não tem audiência entre os que me são caros. Tenho pavor de trotes e pegadinhas de qualquer natureza.
Desculpe-me o desabafo, caro leitor. É que já há algum tempo estou para descer a caneta nesse humor chinfrim que emburrece e empobrece plateias de várias tribos. A gota d’água, para mim, veio com a notícia que acompanhei pela internet sobre um tal “impostor” brasileiro de um programeco desses de tevê, que invadiu o funeral da cantora Amy Winehouse. Cerimônia particular, apenas para familiares e amigos muito próximos, e o cara-de-pau lá, de papagaio de pirata, em busca de audiência. É verdade. Virou notícia. Aqui, em nosso quintal, do modo mais negativo possível, porque quem não é capaz de respeitar luto, não merece consideração.
Aliás, sobre essa moça, também preciso fazer registro. No Natal passado, ganhei um CD, presente do meu filho – um adolescente de muito bom gosto, estudante de música em Vila Velha. No CD, todas as canções da Amy Winehouse, em MP3. Desde então, é só o que toca no meu carro. Há sete meses ouço a voz inconfundível da menina morta. Caramba, quanto talento. Não sou entendido em nada – já conheço entendidos demais. Mas, não há dúvida que essa menina Winehouse não era artista qualquer. Sua breve passagem será lembrada para sempre. Não por causa de sua relação com as drogas, mas pela bela voz e pelas canções incríveis que ela compôs.
Quando Amy esteve no Brasil, no início do ano, Violeta e eu quase fomos ao seu show no Rio de Janeiro, mas contas apertadas, feitas na ponta do lápis, achamos melhor esperar uma outra oportunidade. Paulo e Márcia, casal velho amigo, foi. Paulo disse que, lá, havia um monte de gente torcendo para a menina dar algum vexame. Já a Márcia contou que jamais vai esquecer a emoção que sentiu ao ver a Amy Winehouse cantando, bem de pertinho. Gravou vídeos e fez uma porção de fotos do aparelho celular. Ontem, o Paulo me mandou e-mail: “Estamos muito tristes com a morte da Amy Winehouse, Josiel. Muito mesmo. Que ela, agora, encontre a paz”.
Bom, sobre a Amy Winehouse gostaria de escrever mais. Por hora, é o que dou conta de anotar entre uma corrida e outra, ao som de “Valerie”. Agora, sobre a pequenez dos engracistas de plantão, dessa safra pobre de humor barato que toma conta das emissoras de tevê, não tenho mais a dizer. Uma pergunta apenas: “Cadê a graça, senhor impostor?”.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 27/7/11
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Um comentário:
É mesmo, Josiel, não tem a menor graça. O vale tudo na mídia está passando dos limites em esmagadora maioria dos casos. Quanto à Amy, acho que nos últimos 20, 30 anos nao surgiu uma canttora com tantos recuros musicais e talento assim tão grande. É lamentável e muito precoce a sua perda. Abraços. Paz e bem.
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