Acreditar nos desdobramentos das boa ações é força e tarefa que alimenta o espírito. Tenha o Criador o nome que for, represente a religião que for, amor, acolhida e bênção não podem ser comercializados. Desde que nasci, lá no começo dos anos 1970, na companhia dos mais velhos e mais vividos, frequentei templos e conheci mestres. Crescido, rodo meio mundo por meio de livros sagrados em busca de paz e respostas ao coração irrequieto. Entre os amigos e companheiros de praça, volta e meia, religião é assunto de debates intermináveis. A turma é teimosa. Mesmo sabendo que religião e futebol são temas bem particulares, há sempre grupo que insiste em querer impor convicções bastante pessoais. Ouço e tomo nota apenas. Sou melhor com as letras do que com as palavras. Falar, às vezes, cansa. Prefiro escrever. Aí, no sossego da madrugada, cá com a caderneta, deixo correr a mão e o pensamento.
No fim da tarde de sábado, testemunhei conversa interessante entre a Lúcia, católica, de 45 anos, e o Edvaldo, agnóstico, de 52. Ela diz ter muitas críticas à Igreja, mas considera: “O mundo só não perdeu de vez o rumo por causa das pessoas de fé e de boa vontade que sustentam as igrejas. Pensem um pouco… o batismo, o casamento, as celebrações que nos comovem nos velórios, nas missas de Sétimo Dia… tudo isso faz a gente não esquecer valores e a importância de Jesus no coração”. O Edvaldo nem deu pausa e emendou: “Até aí, tudo bem. Só não dá para aceitar os abusos que os homens cometem em nome de Deus. Todo o sangue derramado, o poder e a ganância histórica das religiões. As proibições, os dogmas – quem tem o direito de dizer se isso ou aquilo é certo e indiscutível? –. E a pompa desses bispos, padres e pastores? E a vida de luxo e riqueza de grande parte deles? Tenho para mim, sinceramente, que a ignorância é o maior fomento de todas as religiões em todos os tempos. Fé é outra coisa.”
Daí para frente a conversa ferveu e nem dei conta de tomar nota de tudo o que foi dito dos dois lados. De fora, observo as duas posições. Trata-se de conversa madura, envolvendo dois indivíduos admiráveis. Conheço-os há anos. Tempo suficiente para saber que ambos são das boas obras dos céus. Lúcia tem tamanha fé em Nossa Senhora, que não sai de casa sem medalhinha abençoada por dom Serafim, arcebispo emérito de Belo Horizonte. Ajuda dois asilos desde mocinha. O Edvaldo, chegado numa boa ação, também é sujeito de responsabilidades. Não é de tocar no assunto, mas participa de grupo de assistência social em Ribeirão das Neves. Desde 2005, veste-se de Papai Noel para fazer bom uso do barrigão e da barba branca com a criançada de regiões carentes da Região Metropolitana. O fato é que tenho bastante alegria na convivência com o casal de amigos, pais, filhos e excelentes chefes de família. Tudo isso só fortalece a minha convicção de que a boa fé, que transforma e faz diferença, está muito acima de todas as religiões do mundo.
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P.S. Não dá para deixar de destacar trecho do e-mail do leitor Ediberto Barros sobre a coluna “Lugar de adolescente é na biblioteca”, que homenageou o jovem poeta De Sá: “Que belos tempos! Tomara e rezo que este João de Sá faça resgatar em nossas crianças o prazer da imaginação”. Bem-vindo, Ediberto! A casa é sua.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 19/10/11
Um comentário:
Mto bom!!!..Só pra variar...
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