– Layla.
– Sobe.
Segunda-feira. Dia de Cantareira ter companhia por hora de aluguel. Layla, a espanhola dos classificados relax, mais parecia capa de revista: a garota de programa mais bonita de que o velho teve notícia. Ao abrir a porta, o viúvo não conseguiu disfarçar o encantamento pela figura alta, sexy e perfumada.
Demorou para que os dois trocassem palavra. Ela entrou, retirou o casaco e o entregou ao coronel. Ele colocou música antiga e foi até a cozinha buscar o vinho na temperatura para a ocasião. Cantareira caprichou nas taças e no prato fino: Pappardelle com compota de tomate confitado ao forno e manteiga de trufas.
Antes, ela quis fumar.
– Posso?
– Como quiser.
A mulher acendeu o cigarro e, entre as baforadas, catou com
profundidade os olhos do velho. Ele não se intimidou e entrou no assunto.
– Você me parece ser do tipo calado, mais reservado. Um
jeito bem bom de ser. “Águas paradas são profundas”, escreveu Lorca, o poeta.
Ela sorriu, apenas. Ele manteve o dramaturgo espanhol na conversa.
– “Nunca saberás, esfinge de neve, o muito que eu haveria de
te querer essas madrugadas quando chove e no ramo seco se desfaz o ninho”.
Ela emendou:
– “O que é isso que soa bem longe? Amor. O vento nas vidraças, amor meu!”. “Ar de noturno”. É o meu poema preferido.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho
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