Berenildes da Costa foi daquelas beldades que faziam ajoelhar os
rapazes mais descolados dos anos 1960. Em paz e livre para o amor, a
mulher teve todos os homens que quis aos pés. Linda, de corpo perfeito e
bem à frente de seu tempo, a bela de roupas coloridas e cabelos na
cintura sabia como ninguém arrancar um suspiro.
Tomou de conhecidas – algumas amigas até – os namorados mais fiéis.
João, Beto, Ricardo, Lu, Maurício, Chico, Breno, Joaquim, Roberto,
Walley, Thomas, Tonico, José e Frederico, todos maconheiros, fizeram
sofrer mais de dúzia de boas companheiras por causa de Berenildes.
Bastava ela dobrar a seda para a rapaziada endoidecer de amor.
Estudante da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Berenildes era diferente da
grande maioria de seus colegas de sala de aula. Enquanto grupo de
estudantes discutia o futuro do país e enfrentava – como podia – as
forças armadas, a moçoila só queria se acabar no colo e na maconha.
Tanta diferença fez Berenildes largar os estudos e curtir a vida com a
mesada do pai, fazendeiro da Região Central de Minas. Filha única, a
beldade pintava e bordava com o seu Natanael, viúvo e dono de coração
sem igual. “Deixa a menina viver, Zé! A vida é uma só”, dizia o homem
para o irmão que morava em Belo Horizonte, padrinho de Berenildes, que
queria porque queria dar jeito na menina.
O tio advogado até que tentou acompanhar os passos da afilhada na
capital. Aconselhou, chamou a atenção... brigou... esperneou e nada. Por
fim, decidiu entregar para Deus. “Essa, só o diabo!”. Berenildes tatuou
o sol, a lua, o mar e as estrelas no corpo. Encheu de flores os braços e
mandou ver raízes nas pernas. Nas costas, duas asas gigantes para ir
mais longe.
Natanel morreu e Berenildes chorou semana. Sem ter nada a ver com a
terra em que nasceu, vendeu tudo para rodar o mundo com o patrimônio
deixado pelo pai. Tio Zé, sempre presente, tentou tirá-la de cabeça:
“Sossega o facho aqui, menina. Vai estudar!”. Em vão. No exterior,
Berenildes seguiu a promover suspiros. Fogosa e desgarrada, a
ex-universitária só queria saber de farra entre os mais livres e
drogados.
Livre, apaixonou-se por colombiano que vivia em Londres. O sujeito,
Lorenzo, era sua cara metade: “Me gusta disfrutar de la vida. Es todo lo
que importa a mi, mi amor”, vivia de repetir o bonitão. Traficante
procurado por autoridades internacionais, Lorenzo caiu e levou junto
Berenildes. Hoje, à espera de julgamento, o casal troca bilhetes de amor
em dois presídios de Bogotá. É o tio Zé, velho e doente, quem tenta
trazer de volta a afilhada.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho
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