Queriam requentar o casamento. Novas experiências, talvez.
Reencontrar o prazer entre quatro paredes – quem sabe? O que já foi uma loucura,
agora, era raro: uma vez por mês, com esforço e olhe lá. Mesmo assim,
burocrático, sofrido, sem a menor qualidade. Um desastre em meio ato e sem
suspiros. Para eles, o movimento dos quadris dava muito trabalho. Preguiça a
dois: ela fingia dormir e ele dava graças a Deus.
Apesar da geleira, cama de casal, os dois não pensavam em viver separados.
Gostavam-se muito. Acontece. Não queriam pular a cerca. Um tinha
medo de magoar o outro. Essas coisas. Assim, a vida seguia. Num almoço, um
amigo chamou a atenção do marido desanimado: “Zé, aquilo que você me disse do
seu casamento… sei não… se você gosta mesmo da sua mulher, é melhor você fazer
alguma coisa, se não quiser que ela arrume outro…” E aquilo ficou como zumbido
na cabeça.
Os conselhos das amigas da esposa não eram diferentes:
“Marido que não janta em casa, come na rua…” “Não lembra da Dorinha? Não dava
pro marido, aí ele acabou se arranjando com aquela piriguete da academia…” A
mulher entrou em pânico. Até que, no salão, ouviu a manicure: “Comigo, o Aníbal
andava meio frouxo… Aí, encapetei, entrei numa dessas lojas de sex shop,
comprei uma roupinha dessas de puta; dissolvi um viagra num copo de leite e foi
uma festa… menina, nem te conto!”.
E aquela história provocou fantasias na mulher. Criativa, inspirada
na manicure, combinou teatrinho erótico de dois personagens com o marido: ele e
ela. A mulher ia vestir uma roupinha muito da provocante, usar peruca loura,
batom rosa choque, salto de 15cm e meia arrastão. O marido, óculos fundo-de-garrafa,
camisa abotoada até o pescoço e gravatinha: figuraça. E, fingindo estranhos,
caíram na noite, na Avenida Afonso Pena.
Tudo muito bem ensaiado. Ele a deixaria em frente ao prédio
da Telemar, na Serra, daria uma volta no quarteirão, e pronto… era só chegar e
dizer: “Moça, quanto é o programa?” Ela diria: “Por mil reais te levo a
loucura”. Até o texto foi dela. Ele sugeriu que ela falasse uns cem reais, mas
ela queimou no golpe: “Por cem eu não topo. Já que vou ser puta por um dia,
quero ser puta chique”. E ele achou aquilo muito engraçado e topou a parada.
Deixou a mulher, deu a volta no quarteirão e quando voltou o
circo tava armado: um advogado taradão chegou antes e cismou com a ‘puta de
luxo’. O marido desceu do carro e não teve conversa: meteu a mão no sujeito e
também levou boas bordoadas. Resultado: foram parar na delegacia. Uma tragicomédia
que só teve fim no raiar do dia.
Em casa, acabados pela longa noite de aventura, dormiram
sono pesado, de conchinha e profundamente apaixonados. O sexo… bem... o sexo
ficou para depois.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho
Um comentário:
Hello. And Bye.
Postar um comentário