Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A dor que não se cala



Sábado de saudade, indignação e dor em capela miúda. A missa de sétimo dia em homenagem à atriz Cecília Bizzotto, a Ciça, assassinada há uma semana no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-Sul da capital, movimentou o Condomínio Retiro das Pedras, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Apenas familiares e amigos mais próximos da artista tiveram autorização para participar da cerimônia religiosa. A família, em silêncio, busca forças para seguir em pedaços, depois do trágico fim da menina, filha e mãe, de 32 anos. Ciça foi morta dentro de casa durante assalto no início da madrugada do dia 7.

Na internet, em blogs e redes sociais, as manifestações de indignação pela morte da atriz se multiplicam em onda pela paz. Felipe Menhem, amigo de infância do irmão de Ciça, Marcelo Bizzotto, desabafou: “Com a Ciça, vai um pouco da gente também. No momento de tristeza e revolta, o que nos resta é dar apoio para quem fica, para o nosso amigo e para a família. É o que vamos fazer agora. Até pra mantermos a fé na vida”. Marcelo e a namorada também foram feitos reféns pelos assassinos de Ciça.

Em site de relacionamento, tocado pela morte de Cecília Bizzoto, o psicanalista Gilson Iannini recorre a Freud e a Heine:

“Minha disposição é a mais pacífica. Os meus desejos são: uma humilde cabana com teto de palha, mas boa cama, boa comida, o leite e a manteiga mais frescos, flores em minha janela e algumas belas árvores em frente de minha porta; e, se Deus quiser tornar completa a minha felicidade, me concederá a alegria de ver seis ou sete de meus inimigos enforcados nessas árvores. Antes da morte deles, eu, tocado em meu coração, lhes perdoarei todo o mal que em vida me fizeram. Deve-se, é verdade, perdoar os inimigos – mas não antes de terem sido enforcados”.

O doutor em filosofia, autor de Estilo e verdade em Jacques Lacan, justifica a citação: “Fantasias de vingança dessa natureza excitaram, com maior ou menor intensidade, as mentes indignadas de muitos de nós nestes últimos dias”. Gilson Iannini, por fim, habilidoso em jogo de palavras e intenções, descarta a escuridão: “A felicidade possível, a felicidade que compartilhamos com Ciça, é de outro gênero. Ela requer apenas o teto de palha, o leite fresco e as flores na janela”. E pontua: “E que nosso silêncio dure apenas um minuto”.

Sentimentos de tristeza e indignação, na ponta dos dedos, como os de Iannini, se repetem no Facebook. Com 1,2 mil compartilhamentos, convite para ato público pela vida mobiliza artistas e cidadãos para encontro hoje, às 19h, na Praça Floriano Peixoto, em Santa Efigênia, Região Leste da capital. “A gente precisa é de amor e de paz, pra poder continuar, acreditar que algo pode ser feito e transformar nossa perplexidade e indignação em grito de paz e esperança!”, convida a cantora Vanessa Ferreira, de Paris, sua rede de amigos.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho

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